PEQUENINOS

 

Olhei desconfiado, lá estava você

Te vi sentado, olhar que nada via

As olheiras profundas revelavam a dor

Das noites insones, dos dias insossos

Das semanas, meses e anos iguais

 

Mudei o meu caminho

Não queria te olhar

 

Segui por outra calçada, lá você corria

Te vi agredido, sendo expulso de um templo

Pessoas gritavam e apontavam em sua direção

Suas poucas roupas eram trapos sujos

Sua pele exposta afrontava a hipocrisia

 

Continuei a minha rota

Não queria me comprometer

 

Em outras vias, te vi em situações embaraçosas

Mendigando por uma marmita na esquina

Brigando por vaga num pequeno albergue

Enfrentando fundamentalistas num protesto

Estendendo um papelão sob a proteção do viaduto

 

Voltei para o meu conforto

Impossível te reconhecer

 

Você se fixou em minha mente

Não consegui esquecer aquele olhar

Procurei a calma no velho Livro Sagrado

Quiçá adormecer ante as letras miúdas e a luz baixa

Então sua voz saltou daquelas páginas finas

 

Quando fizer a um destes pequeninos

A mim suas mãos estarão estendidas

 

Todos aqueles rostos passaram por mim

Todas aquelas mãos vieram em minha direção

Todos aqueles rostos eram o seu rosto

Todas aquelas mãos eram as suas mãos

Todas as vezes que os vi, a todos ignorei

 

Agora sei quem és

Posso descansar

 

 

(Imagem: SRzd)

Jefferson Lima
Enviado por Jefferson Lima em 12/07/2022
Reeditado em 21/12/2022
Código do texto: T7557949
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