METAFRÁSICO

No Caderno de Armazém

do canoeiro de Barros

não existia delírio metafísico,

tudo era delírio frásico.

Assemelha-se

ao Quarto de Despejo,

quando a fome

e a necessidade

ganhavam delírios

em papelões.

No Caderno de Armazém,

além dos fiados de arroz,

querosene, feijão e fumo…

havia juros, prejuízos

e principalmente confiança.

Nos delírios

de Carolina de Jesus

“Delírios de escassez”

tínhamos realidade

e esperança.

O canoeiro e Carolina

voavam fora da asa.

O poeta é um incansável

caçador de delírios frásicos

em abundância de metáforas.

(Diálogo poético com “Os deslimites da palavra”, o livro das ignorãças, 1993 - Manoel de Barros. Imagem da capa: Martha Barros)