Poema do Tapuru

Belém, 17 de junho de 2022.

Que tu repares que sou um verme, disso eu não estranho.

É de minha compleição e não há como negar

E mesmo que eu negasse, tu me lembrarias quase vomitando:

"Verme!".

Sinto-me nem mais nem menos com esse adjetivo

E enquanto não atrapalhar minha fome, está tudo em ordem.

Cada pássaro, cada gato, aquela cutia,

imagina uma anta cheia de meus irmãos.

Cada manga, goiaba, toco de árvore,

A bicheira do cachorro.

E não faça essa cara de ânsia esverdeada,

Sou parte de todos os destinos vivos.

Inclusive do seu.

E não adianta te irritares com minha franqueza,

De meu lado considero sua repugnância algo tranquilo de se lidar.

Se serve de consolo,

Confesso que em caso de certos nascidos humanos

que não são humanos

Sinto nojo.

Pois deles exalam a podridão da alma

que de longe me queimariam as narinas caso eu tivesse.

Aí reclamo de minha função na natureza.

Vermes seus que perambulam de duas pernas

Em rostos tomados de maldade.

Riso sádico.

Feição perversa.

Boca fétida a cada saída de palavras.

A hipocrisia assassinando seus semelhantes.

Que tu repares que sou um verme, disso eu não estranho.

Estranho é conviveres com alguns abjetos

Que tomas como vizinhos

parentes,

Líderes.

O asco de me alimentar de uma alma sebosa é cruel missão

E só de ira

Tal qual uma sucuriju

Como-a por toda a História.

Não precisa agradecer este favor.

É por revide das letras.