Solilóquio
Estou cansado desse solilóquio,
inesgotável escutar das minhas divagações,
infindável ação de torturar-me, permanentemente.
Eco próprio dos meus pensamentos inebriados,
forma angustiante das minhas perdas de afeto.
Abandono-me nesta estrada, ensimesmado.
Congelado pelo frio, atraído por tua presença.
Reconfortado por tua beleza pungente,
estremecido na minha máscula vitalidade.
És profundamente bela, aos meus olhos,
materializando meus precários sonhos.
Tuas feições arrebatam-me nessa loucura,
numa convulsão de sentimentos materializando-se.
Sou frustração nesses gestos contidos,
na contemplação do teu perfil, da tua sombra,
desabrochando pensamentos, inalcançáveis,
nesse tardio desejo que me alucina, me transborda.
Estou cansado dessas esperanças tênues.
Adernando nessas ausências, nessas tristezas,
exalando tuas carícias, sem o ardor do teu corpo,
nesses sonhos loucos de amor desamparado.
Estou cansado dessa dor amiúde, dessas imprudências
dessa ausência, desse desamparo nessa alcova,
afogando lágrimas entre apelos e tormentas.
Estou cansado desse solilóquio...