TRILOGIA (Catedral - Vitral - Portal)

TRILOGIA I - CATEDRAL

Eu sei, como sempre soube,

um sussurro, a voz recortada

Mesclando a noite em horas fugidas

vai se embrenhando pela madrugada

Nessa hora a luz pálida insinua,

insiste e tremula

Antevendo o final de horas devotadas

O altar espera o sacrifício 

Não posso forçar um diálogo com o silêncio

Se interrogo,

me surpreendo

Se exclamo,

a frase enamorada de sentido se perde

Reverbera pela nave e se choca com o mármore

Em alguma antiga catedral

flores murcham e enegrecem

Padecem do mesmo mal que eu, enegrecido pela fuligem

As velas acesas

Não me rendo

Do outro lado,

brilho do sol invade o corredor,

a porta entreaberta convida e seduz

Antes da primeira vez eu aproveitaria todas as chances

Agora fujo para longe da penumbra

Lanço a dúbia escolha imersa em outros planos

Mas agora eles me contemplam a distância

Tudo me parece tão deserto,

A flor na areia invoca a solidão do evento

Ermo em desabitados anos sem ter chôro

Regresso.

A cruz fincada no final da estrada conduz ao caminho certo

Permaneço

Deus não espera pelo tempo

Ele conduz à eternidade

30/05/2022

10:52hrs

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TRILOGIA II - VITRAL

A luz atravessa o vitral colorido,

tons vívidos

segregados em motivos híbridos

Não encontro um tom certo

pra encarar um olhar penetrante

Enquanto desespero abre espaço,

num mesmo fulgor

o corpo emoldurado se extingue

perdendo seu resplendor

Em algum lugar brilham estrelas,

tom de luz em vidro que satura cada instante

Uma única estrela lança luz na jornada ao longe

Como estrelas são almas brilhantes,

assim o fulgor instante escapa

e vira ser errante

feito imagem à própria estrela

Foz de luz no cosmos

Como podem duas substâncias serem geradas do mesmo elemento?

A fornalha que queima e depois se apaga

Um feito de escuridão

disforme feito carvão

A outra lapidada em brilho e talho,

luz amante em bailado extasiante

Grafite carbono e diamante

A luz enfrenta seu caminho até alcançar seu destino

Ora presa enclausurada até que se apague

Ora solta e fantasiada de multi tons reinventados em alva luz branca espalhada

Tudo é luz

Se acaba ou se jorra feito fonte d'água

Não deixa de ser luz traspassada

Cada coração de luz

pulsando

no seu próprio ritmo

Puxa empurra

Apaga e ilumina o vitral

Que a noite possa espalhar o brilho em próprias mãos

E sustentar a frágil teia tecida de sonhos

Construido em belo enfeite

de deleite celestial

No brilho da luz que atravessa

decompõe-se em cores o vitral.

30/05/2022

11:25hrs

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TRILOGIA III - PORTAL

Embora a chave do tempo possa trancar a porta

Enfrento raro dilema

Fogo que inflama através da alma incendeia a mente

O Espírito parte para a tranca e sombra silenciosa

O orvalho na rosa incide escolha maliciosa

Solução instantânea ou Interminável problema

Giro a chave e escolho abrir a porta

Reflete a minha forma e reconhece-me

Ou a pantera deve esperar a sua presa deliciosa?

Embora esperneando

se recusasse a se render,

atravesso a porta

A alma absorve a fera e dá mais um passo à frente,

Por onde só eu escolheria meu caminho

Avanço

Mimetismo em colapso

Por onde eu passo

o caminho diante de mim me faz crescer

Entre histórias sem sentido que discorrem sobre a ida e lições que tenho aprendido

decido te enfrentar

"Ó meu pior inimigo!"

O eu intacto versus o eu adquirido

disfarço, finjo

Uso armas fatais pra mim

mas atinjo meu objetivo

Perdendo eu ganho

e conquistando me escravizo submisso

despojado e indeciso

Giro a chave e escolho fechar a porta

Por enquanto

Ou até que a estrada em final encerre e mande.

Obedeço e reflito.

FIM

30/05/2022

12:02hrs

Selton A Jhonn s
Enviado por Selton A Jhonn s em 30/05/2022
Reeditado em 31/05/2022
Código do texto: T7527075
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