Cinza

Num entardecer assim, cinzento,

Oscilo entre hard, easy, isento…

De qualquer sentimento, emoção.

Carga? Uns cinquenta por cento,

Nem fora, nem dentro, me sento…

Em stand by entre o sim e o não.

Quero prata, não bronze e ouro,

Não quero o sorriso nem o choro…

Semblante tipo da Monalisa.

Pensando na morte, em estar vivo,

Sei lá, vão, introspectivo...

Parcelo dúvidas em doze vezes no Visa.

Fui "moreno" de tanto ver Melrose,

Pele agridoce, ponteiro no doze…

Não sabia se era noite ou dia.

Descansei entre o depois e o antes,

Não entendi nada de Ibrahim Kant…

Não obstante construí minha filosofia.

Nada e tudo em busca do equilíbrio,

Da terra à água como um anfíbio…

Mas desejo asas iguais a do grou.

Sozinho a gangorra não estabiliza,

Passeio entre o furacão e a brisa…

Pesado tal pluma plano, pleno vou.

No headphone John Coltrane,

Pra que assim eu encontre, treine…

Meu eu civilizado e selvagem.

Num hotel barato, sobre meus traumas,

Meu corpo, mente e alma…

Fazem um sujo e intenso ménage

O que há por trás da minha íris fumê?

Será que ainda consigo escrever…

Algo além de declarações de guerra?

Será que apesar dos pesares,

Ainda aspirarei bons ares?

Porra! Obstruíram minhas guelras.

Raso tal poça, profundo tal Danúbio,

Um tanto quanto dúbio…

Com os querubins, bebo gin no bar.

Aluguei uma quitinete no meio-termo

No bairro entre o povoado e o ermo

Sabe a via das dúvidas? Fica lá!

Talvez, disse: Talvez! A meia-idade,

Só sirva na verdade…

Pra entender que nunca se entenderá, nada.

Ao olhar para baixo percebi,

Que todo o tempo permaneci aqui...

No primeiro degrau dessa escada.

Nem manga cumprida, nem regata,

Nem borboleta, nem lagarta…

Em transição, dentro do casulo.

Soro de açúcar e sal iodado,

Ora durmo acordado…

Ora como sonâmbulo perambulo.