Manhã de maio
Voam convulsas as folhas de maio
E deixo que voem das mãos de Piazzolla
As canções contemporâneas argentinas.
As notas procuram as janelas
Esvaem-se pelas cortinas
Prenhes de vento, invadem o dia
E a luz solar se desdobra...
Pelas escalas da geada fria
Piazzolla derrama sua obra
Em febril agonia.
Estão em mim, as Mães da Praça de Maio
Com seus lenços desgastados pelo tempo
E os cedros mantêm-se gelados
Ganham altura, abraçam nascentes.
A música segue em disparada
Galopando teclas, engole o dia.
As folhas, as ramadas
Vertem salgadas jogadas no tempo
Úmidos são os olhos das Mães das Praças de Maio
Diante de cada grito que cala.
Pelos mananciais de vento
Uivam lamentos
Molhados do Prata
No silêncio contrito das Mães da Praça de Maio...