adeus, moça da janela
quem eu seria se eu tivesse escolhido ficar?
quem eu seria se tivesse tido a coragem de me arriscar?
da minha janela eu observo a vida acontecendo lá fora.
das persianas eu vejo as luzes acesas das outras casas
e perco bastante tempo imaginando as vidas que existem ali.
invento histórias com personagens reais,
que desconheço o modo de vida.
me pergunto se são felizes.
quero acreditar que sim.
gosto de observar os outros para dar sentido a mim.
mas, se paro para observar a mim,
me pego pensando,
que escolhas diferentes das que eu fiz pelo meu caminho,
quem sabe,
poderiam me levar para alguma daquelas vidas
do outro lado rua.
quem eu seria se tivesse escolhido ficar?
quem eu seria se tivesse tido mais coragem de me permitir?
que tipo de pessoa eu me tornaria se continuasse naquele lugar?
naquele trabalho?
naquela relação?
naquela outra vida?
quantas histórias,
quantas alegrias,
e tristezas.
quantas conquistas
e perdas.
quantos mundos existem em cada uma daquelas janelas?
quantas possibilidades de vida
e de existências cabem em poucos metros quadrados?
quantos universos cabem em cada pessoa que está naquelas janelas?
eu mesmo respondo,
com sinceridade de quem se perde em tantas possibilidades.
infinitas,
intangíveis,
incontáveis vidas,
desenrolando-se ao mesmo tempo
e além da minha vida de agora.
algumas delas poderiam ser minha,
se eu tivesse feito diferente.
se eu tivesse dito “não”.
se eu tivesse dito “sim”.
e se eu fosse naquele encontro?
e se eu não tivesse ido naquela noite?
e se eu tivesse respondido aquela mensagem diferente?
e se eu tivesse pensado mais um pouco?
e se eu tivesse não pensado mais?
o que seria de mim se dobrasse em outra esquina?
mudasse o caminho?
teria feito diferença?
tantas versões de mim perambulam por aí.
tantas vidas caminham por aí
sem imaginar tudo o que poderiam ser!
tantas vidas caminham por aí
pegando a mesma esquina,
parando nos mesmos lugares,
descobrindo verões e sabores novos.
me pergunto se alguém,
como eu,
se questiona que vida teria se pudesse escolher diferente.
tanta gente por aí fingindo felicidade e surpresa
em ser exatamente quem são
(quem podem ser).
tanta gente sendo mais do mesmo.
sem nem desconfiar de toda mudança e rebuliço
que espera ali,
na rua errada,
na outra esquina,
no outro lado da calçada.
somos infinitas possibilidades,
algumas infindáveis e inexploráveis.
que a gente não esqueça disso!
– nem mesmo você, moça da janela da casa do lado.