INCONSTÂNCIA TEMPORAL
Era menino e o tempo era vadio, vagaroso,
As vontades e os sonhos lhe cutucam as nádegas,
E ele, sossegado, arrasta-se em câmera lenta,
Nem aí.
Esperava o tempo em que a barba aparecesse,
A voz engrossasse, os pelos surgissem, em vigor,
Mas a lentidão das horas teimava em adiar tudo,
Nem aí.
Tinha tanto para viver, assistir, fazer, usufruir,
Tantas certezas embalavam planos tantos,
Mas os dias eram tão longos, as noites mais ainda,
E eu ali.
Agora sou um velho e ainda sigo o tempo,
Agora tento segurá-lo pelo rabo, em vão,
Ele corre, corre, velocista voraz, apressado,
E eu aflito.
Ainda tenho tanto para vir, assistir, fazer, usufruir,
Tantas dúvidas para esclarecer, tantos planos pendentes,
Mas os dias são tão curtos, as noites tão rápidas,
E eu aqui, contando-os regressivamente.