A hipocrisia da compaixão adormecida

Se o frio te bate à porta

E o cobertor te socorre,

Pare um pouco e reflita,

Que lá na calçada habita,

Alguém que treme de frio

E desamparado morre.

Roga a Deus por piedade

Para o pobre moribundo,

Não entende como pode

Deus ouvir e ficar mudo?

O choro ao rosto escorre

E encharca o travesseiro,

Molh'o cobertor quentinho,

Tecido em lã de carneiro.

Um sentimento se revela,

Treme a face de desgosto

E acendendo a outra vela,

Com o lenço, limpa o rosto.

Depois faz a cruz no peito

E com um beijo no terço

Termina-se a obrigação.

Logo adormece ao leito

Em paz e bem satisfeito,

Cumprida a boa ação.

Mas no sono se agita,

Pois ali na contramão,

Uma alma triste habita,

Dormindo no papelão.

Como a hipocrisia é tola!

Chora por qualquer cebola,

Mas não move um dedinho,

Pra tentar mudar o mundo!

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 21/04/2022
Reeditado em 19/04/2023
Código do texto: T7500128
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