As Reflexões de um Astronauta

Estou agora no espaço, sozinho, contemplando a imensidão do vazio sideral.

Apaixonado pela visão da Terra, estonteante globo azul, mas composto de tantas torpezas.

O crânio faz um cerco ao planeta com pesadas desolações:

Por que um lugar tão belo é poema cósmico de autodestruição?

Teremos o mesmo destino das estrelas, que depois de intenso brilho torna-se inútil pó?

Na imensidão do cosmo, enquanto ouço canções de Bowie e Elton John,

A ausência de gravidade reestabelece uma cratera no peito...

É o buraco negro da vida curvada numa razão que não valoriza pessoas.

Sinto tanta saudade da amada, dos filhos, que vazio existencial!

Premiei atenções no acúmulo de bens materiais e fúteis buscas de poder.

De que vale ter os bolsos cheios, um invejável emprego, se agora estou aqui tão só?

Eu fiz tantas odes ao amor enquanto enlambuzava-se nos altares do capital.

Por algum dinheiro a mais, sob o doce fel amadeirado do individualismo,

Impus ao ego uma galáxia de cicatrizes que enferrujou o coração.

Antes da aproximação de um buraco negro espacial serei engolido

Pela fresta consumada no peito... Silêncio, ausência e escuridão!

Eu vejo um feixe de ilusões que se impõe sobre a realidade:

Os objetos, efêmeros, idealizados, valem mais que o tumultuar dos corações.

Toda a dignidade humana foi esfacelada, triturada a pó... Falência da epopeia civilizatória!

Daqui de cima percebo que meu nobre ofício em nome da ciência resultará em mais alheamento.

Embora as promessas da ciência ascendam boas novas, descubram novas soluções,

O cordame global da pobreza num ato expõe toda a barbárie possível.

Os cotovelos dos ricos se impondo sobre esfomeados estômagos de crianças,

A cobiça das elites rindo das feridas tratadas como privilégios.

Do que adianta detalhada empiria sobre as condições da vida humana em Marte,

Se o problema da desigualdade nunca foi alterado nos capítulos de nossa história?

Eu vou permanecer um bom tempo no mudo espaço,

Aqui sou minúscula partícula diante de toda imensidão.

E apesar de ser um microcosmo nessa metagaláxia em expansão,

Um insignificante grão de areia, um viajante há anos luz de qualquer sólido fundamento,

Entre as 100.000.000.000.000.000.000 estrelas do universo, tentarei ser como o astro Sol...

Corpo celeste de energia flamejante que se ilumina perante os asteroides das ilusões.

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 09/04/2022
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