Amores e Vidas Malogrados

As noites nunca ficam sozinhas,

As ruas nunca estão paradas,

As luzes dos postes estão sempre ligadas,

Mas tudo parece sem vida, apagado;

E eu continuo sendo uma solitária madrugada.

Você nem sabe o quanto eu te amo,

Porque te escondo o que sinto:

As ternuras em teus lábios onde não derramo?...

Quando vou aprender que o amor também mente?

Quando tu vais me enxergar, me tocar realmente?

Eu não sabia ver o despertar das flores,

Cônjuges que se espancam e só causam dores,

É tão raro encontrar um amigo verdadeiro e leal,

Pois só encontramos solidão e hipocrisia neste mundo infernal.

Os pingos da chuva descem pelos telhados,

Meus olhos continuam abertos e molhados,

A alegria é como um relâmpago nesse céu:

Brilha demais e desaparece como um escarcéu.

Não somos aceitos como nós somos:

Querem transgredir nossa sexualidade,

Querem transformar nossa identidade,

Querem escravizar nossa liberdade,

Mas o que é ser livre de verdade?

O que é ter uma "identidade"?

O que é possuir essas individualidades, sexualidades, liberdades?

Mal estamos começando a conhecer a nossa ignorância!

Acariciar a maciez de teu rosto tão lindo,

Andar pelas ruas de mãos dadas contigo:

Eu não entendo por que tu amas mentiras e aparências,

Eu não entendo por que apagas a luz de tua essência.

Meus amigos gays lutam, amam e querem só viver;

Não é pecado amar, sem ferir, outro ser!

As crianças com leucemia acreditam em milagres,

Mas o grande milagre é despertar antes de morrer!

O milagre do amor é amar razoavelmente sem perecer.

Ir a festas com os velhos amigos e se divertir,

Não pensar na morte quando o inevitável é partir;

Eu beijo os teus lábios que transbordam forças ancestrais,

Tudo é tão estranho neste mundo de sombras espectrais.

A pequena e frágil borboleta vaga entre as flores,

Todos nós somos egoístas até com nossos amores;

Por que a gente precisa fingir que nós estamos bem?

Por que não chorar, se não há na casa mais ninguém?

Eu saio de casa à procura do que não sei,

Eu fico em casa, entediado e esperando

A verdade que me fará de mim mesmo rei...

A vida é sempre mais complexa do que imaginei.

Nossos pais nos olham e querem encontrar

Aquele linda criança que costumava os abraçar;

Como deve ser triste e difícil ser mãe ou pai,

Quando tudo é incerto entre filhos e pais.

Os jovens têm tantos amigos e são tão sozinhos,

Estamos imersos em piscinas de egoísmo.

Somos seres cheios de fraquezas e hedonismos,

Contudo queremos respeito, amizades e carinhos.

Teu lindo corpo despido está sorrindo atrás daquele batente.

Somos esses barcos solitários a navegar em tantos portos e cais.

E os corvos me dizem: “Ser feliz, amigo, é um canto inexistente;

Ser feliz é a tua semente e a minha ilusão de nunca mais”.

São duas horas da manhã, pego um táxi e a cidade continua calada.

Volto sozinho pra casa, pois somos noites bipolares e malogradas!

Quando eu contemplo essa força irrevogável de amar,

Quando me vejo no seio de tanta dor e decepção,

Eu procuro a luz de meus irmãos, amigos e renovação;

Devo buscar a vida e gritar:

"Quero ser feliz com fervor, liberdade, loucura, respeito e amor!"

(ALVES, Gilliard)

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 26/03/2022
Reeditado em 07/04/2022
Código do texto: T7481422
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