Alma avulsa
Deitou-se, tinha muito a fazer, levantou-se.
Levantou-se, tinha muito a descansar, inquietou-se.
Ofereceu tudo, mesmo que nada...
Não sendo nada, perdeu-se em tudo.
Desejou morrer por sentir-se inútil
Rogou por viver, por julgar-se útil...
Pensou bastante com muitas palavras
Calou-se por serem tantas
Pensando em si, sentiu que não existia
Que tornava-se um peso quando do vácuo aparecia.
Sentia sua presença clamada, mas quando surgia era ignorada.
Olhando para si através do reflexo que via nos olhos dos que lhe viam, via apenas seus defeitos, e tudo que aqueles olhos projetavam sobre si.
Sua real pessoa era como um defunto numa missa de corpo presente
Nos olhos dos que lhe contemplavam, a alma que nunca existiu, forjada nas expectativas não correspondidas, nascidas das palavras não ouvidas.
Em volta desse corpo presente, a sua alma paira saltando do imaginário dos que lhe velam.
Esses não percebem que naquele corpo há uma alma própria, com suas capacidades e limitações
Esses não percebem que no corpo o pulso ainda pulsa.
Que cada vida é única, cada alma é avulsa.