Sob a lâmina especular

O prenúncio da mudança se concretiza.

Quando o véu perene se eleva.

O antes implode destruído pelo agora.

Diante da lâmina vítrea dispo-me.

Evocando sob ela os invisíveis traços.

Surge primeiro aparente grossura áspera.

Atravessa o corpo de oculta beleza.

Uma ferida se abriu como botão de flor.

Trouxe consigo aromas, espinhos e dor.

Do que até outrora era renegado.

E agora está selado em meus braços.

Como mudar dói, foi aí que doeu.

Fustigando como o aço varador.

Cabeças, peitos e corpos de uma mesma cor.

Minando incolor e salobro sangue ocular.

Não resisti em observar e me entreguei.

Desfeitas as amarras se abrem as barreiras.

Permitindo perceber, tocar e ser.

Num corpo que começa uno e termina noutros.

Amor aos nossos narizes largos.

Bem querer aos cabelos crespos.

Adoração aos ancestrais.

Na amplitude desta pele-noite azeviche.

Respeito cabeça, corpo e espirito.

A ferida flor enfim murchou.

Lavada pela enxurrada de lágrimas.

Seca ao sol de minha felicidade.

Liberdade em minha identidade.

Francisco Grandiel
Enviado por Francisco Grandiel em 25/03/2022
Reeditado em 31/03/2022
Código do texto: T7480758
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