Sob a lâmina especular
O prenúncio da mudança se concretiza.
Quando o véu perene se eleva.
O antes implode destruído pelo agora.
Diante da lâmina vítrea dispo-me.
Evocando sob ela os invisíveis traços.
Surge primeiro aparente grossura áspera.
Atravessa o corpo de oculta beleza.
Uma ferida se abriu como botão de flor.
Trouxe consigo aromas, espinhos e dor.
Do que até outrora era renegado.
E agora está selado em meus braços.
Como mudar dói, foi aí que doeu.
Fustigando como o aço varador.
Cabeças, peitos e corpos de uma mesma cor.
Minando incolor e salobro sangue ocular.
Não resisti em observar e me entreguei.
Desfeitas as amarras se abrem as barreiras.
Permitindo perceber, tocar e ser.
Num corpo que começa uno e termina noutros.
Amor aos nossos narizes largos.
Bem querer aos cabelos crespos.
Adoração aos ancestrais.
Na amplitude desta pele-noite azeviche.
Respeito cabeça, corpo e espirito.
A ferida flor enfim murchou.
Lavada pela enxurrada de lágrimas.
Seca ao sol de minha felicidade.
Liberdade em minha identidade.