Paixão crucificada
Fosse parido numa manjedoura.
Ouvisse a mãe mugir a castidade.
Quiçá pecasse mesmo, de verdade,
no seio de paixões devastadoras:
paixões morenas, brancas, negras, louras...
que me morderam, pela vida afora,
com a boca faminta que devora
a carne das paixões inda vindouras.
Fosse eu um rebento de Maria,
ungido pelo sêmen de José,
quiçá pusesse à prova a minha fé
nos dotes divinais da poesia.
E antes de chegar o fim do dia,
quiçá roubasse enfim, da velha cena,
o beijo que negou a Madalena
e naufragou no pranto de Maria.
A história desse amor, alguém diria:
o fel do precoceito envenena.