Inquietude
Percebe-se uma tristeza em teus olhos.
Em tuas mãos trêmulas, a incerteza dos gestos,
na tua sabedoria de outrora o vacilar dos tempos.
Anoiteceu a tua volta todas as noites minhas, em silêncio.
Que perplexidade há em ti, amigo!
Precipitaste nas torrentes dos oprimidos,
toda tua loucura como solução entre lutas.
Já não reivindicas nada, só reflexões nessa mirada.
Amarguras o equívoco da tua geração.
Vestido nessa carapaça, não desperdiçaste qualquer lágrima,
Nenhum soluço ouvimos de ti nesse teu pranto,
embora teu corpo denunciasse emoção intensas.
Arrotaste todo o ressentimento, mas nada falaste.
Nunca mais soubemos do teu violão, das tuas composições.
Amigo, golpeastes todos os teus torturadores,
remendando teu corpo com o passar dos dias...
Não te vingaste, mas jamais bateste a porta dos gorilas,
jamais traíste a tua causa de outrora, nessa tua desesperança.
Ficas, agora, na alcova que te colocaram, conformado.
Tens a cabeça erguida mesmo com tantas cicatrizes.
Ruminas, em tua quase alegria particular novos caminhos.
Já não es mais 64, 68, mil novecentas mortes...
Há sol nesse lado da tua vida de recomeço.
Os dias não serão mais de agonias e sofrimentos.