O Abismo
Se não tens muita coragem
Não te aproximes do abismo
Contudo entenda que lá sentirás o pulsar da vida em toda a sua pujança
E também, paradoxalmente, um imenso desapego
Incluído o da própria vida
Lá te encontrarás inteiramente despido
E se ainda assim quiseres debruçar-te
Muna-te de tudo que julgares for preciso
Ainda que de orações
Mas que de nada valerão
Sem a fé que lhes é devida
Evita sobretudo o que te dê vertigens
Pois o perigo, em suas escarpas alcantiladas
Erigiu sua magnética morada
Que contudo , oferece aos que dali retornam
Energia vital redobrada
E poder de transcender o medo
Se tens amor à vida
Enfrenta ao menos uma vez
Algo realmente temerário
Ousa olhar bem fundo no abismo
E descubra que lá é só mais um lugar onde morrer
Mas cuida-te
Pois ainda que não morras, serás terrível que por lá te possas perder
E se encontrar em meio às trevas da loucura
Se tens amor à vida
De lá afasta-te então
Transformado por um poder hercúleo
Depositário de uma sabedoria transcendental
Pronto para o dia em que irrevogavelmente caiamos todos no mais profundo dos abismos
Porque certo é que assim dar-se-á
Como sempre se deu
Desde a noite dos tempos
“Abyssus abyssum invocat”
Romulo Pessoa