Alteridade
Não precisas alçar voo.
Sequer movimentar teus pés.
Nem mesmo tuas pernas são imprescindíveis.
Num evidente paradoxo,
ficaste demasiadamente apegado à vida.
No desejo de ser compreendido,
ignoras a necessidade de compreender.
Tua indiferença reflete (su)a história...
Deixa fluir teu coração...!
Não é sobre você.
Não é sobre mim.
É sobre o outro não ser mais um estranho indiferente.
É sobre a causa secreta de tua morte, que, segundo Campbell,
é o próprio curso de tua vida.
Exercita Schopenhauer.
Experimenta o sofrimento alheio.
Faça-o a despeito do fato da pele do outro não envolver teus nervos.
Exercita-o a ponto de perceber-te em toda criatura viva.
Deixa teu cajado, descalça tuas sandálias.
Da planície ao cume, só obsta você.
Abandona essa carga, Sísifo!
Estás destinado aos voos da alma.
Pelas palavras, podes a(s)cender (a)os céus!
Ipatinga, 12 de março de 2022.