Escrevo
Sob um privilégio que tenho consciência do discrepante fator qualitativo imposto nas desigualdades sociais.
E mesmo alfabetizado e letrado, sem o medo de errar uma letra ou a menor das pontuações, não por arrogância.
Porquê nas palavras da alma e do coração, as linguagens são insuficientes para expressão.
Escrevo por que sinto, cato nas marés de vozerios as vivências próprias, alheias e faço-me fina areia permeando a passagem de mundos.
Escrevo porque sinto, não como quem sente e exclama, mas como a argila que satura-se das águas vidas, transmutando anseios e perturbações em acúmulos de silenciosa paz.
E sem aviso prévio rompo a barragem e me derramo em textos cristalinos e enlameados.
Escrevo por que sou cientista de mim e cobaia da arte, experimentando na pele, corpo e alma. Das dores e delícias , sentindo e pondo sentidos que não cabem em tubos de ensaios, senão no próprio viver
Por fim escrevo por gostar de voar livre, estirar-me sob os lençóis úmidos do céu. Escrevo porque quando olho pra baixo, vejo, não sou passarinho e pelo medo de cair deixo-me diluir em tinta, pena e papel.