Escrevo

Sob um privilégio que tenho consciência do discrepante fator qualitativo imposto nas desigualdades sociais.

E mesmo alfabetizado e letrado, sem o medo de errar uma letra ou a menor das pontuações, não por arrogância.

Porquê nas palavras da alma e do coração, as linguagens são insuficientes para expressão.

Escrevo por que sinto, cato nas marés de vozerios as vivências próprias, alheias e faço-me fina areia permeando a passagem de mundos.

Escrevo porque sinto, não como quem sente e exclama, mas como a argila que satura-se das águas vidas, transmutando anseios e perturbações em acúmulos de silenciosa paz.

E sem aviso prévio rompo a barragem e me derramo em textos cristalinos e enlameados.

Escrevo por que sou cientista de mim e cobaia da arte, experimentando na pele, corpo e alma. Das dores e delícias , sentindo e pondo sentidos que não cabem em tubos de ensaios, senão no próprio viver

Por fim escrevo por gostar de voar livre, estirar-me sob os lençóis úmidos do céu. Escrevo porque quando olho pra baixo, vejo, não sou passarinho e pelo medo de cair deixo-me diluir em tinta, pena e papel.

Francisco Grandiel
Enviado por Francisco Grandiel em 08/03/2022
Reeditado em 13/03/2022
Código do texto: T7468257
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