Pastor ou Lobo?
Por trás de uns vidros d’óculos opacos,
Muitas vezes um lobo ou um leão, rugem,
E como um absurdo temporal estrugem
Os ódios dos covardes e dos fracos.
Fugir pudesses, ó poeta em cacos,
Dos vidros que ocultam almas de ferrugem,
Que espumam de ira, tenebrosos mugem,
Mugem como de dentro de uns buracos.
Que essas sombrias, dúbias almas foscas
Que parecem, no entanto, como moscas
Inofensivas, viscosas como as lesmas.
Mas tu, em vão, tais vidros partirias?
Pois que no mundo, eternamente, as frias
Almas humanas serão sempre as mesmas.