Enleio
Abandono-me, sem medo!
Já não sei mais os caminhos dessa estrada.
Tênues momentos na confusão dessa caminhada,
entorpecem meus sentidos, na frágil penumbra desse dia.
Tormentas aniquilam minhas esperanças, desmesuradamente.
Nos umbrais desse ar tristonho, nessa reflexão, insisto!
Oprimido pela ausência dos sonhos de outrora,
disfarçando risos, nessas miradas, nessa estrada, abandono-me!
Alvorada na madrugada fria, aguçam meus sentidos.
Nas veredas obscuras, esses suspiros persistentes.
Desvairado sortilégio nessa brisa tênue, anunciada.
Acalanto dos meus últimos e vagabundos devaneios.
Ah, não venham com teimosas teorias!
A realidade estampa esse ar tristonho, ensimesmado.
Mansa, prazerosa viagem, nessa estrada de abandonos!
Paira nos versos, essas inflexões teimosas, meus delírios.
Conforto-me nos caminhos tortuosos, nesse voo livre.
Perfumando de jasmim essa indispensável reflexão.
Palpitante enternecer nessa mansa descoberta de sentidos,
enterrando os sonhos na visão dessa paisagem, entorpecendo-me.
Só restam chagas disseminadas nessa brisa cálida,
esquecimento, síntese desse ser cansado, nesse desalento,
tradução de uma vida frágil, desgovernada nessas incertezas.
Abandono-me nesse caminho a esmo, sem destino planejado.
Ah, que ninguém me venha com ilusões!
Foram muitos os dias de solidão, de tristeza.
Escombros presentes nesses sonhos imprecisos.
Triste convivência com essa vida de desvarios.
Exato momento desse abandono,
sem abrigo, sem jardins, sem fome, nessa triste revelação.
Embriagado das palavras vazias, em despedida,
percorrendo essa estrada, conformado nesse abandono!