QUERO FALAR COMO ESCREVO
dar-me ao mundo na voz
como torná-lo concreto?
ao vozear o som me foge
pareço mudo incompleto
pois se digo uma palavra
sempre morre pelo meio
ter glossário como lavra
seria bom pra meu enleio
ouço até o timbre do vento
nada me escapa ao redor
sou ouvinte a todo tempo
mas no silêncio sou cantor
domino pautas, atinjo notas
surreais para um maestro
estou pouco aí se te importas
sou um estrelato cá dentro
vibro ao som do meu piano
que melodiam vidas vividas
no caderno sou um indiano
as dores todas são sentidas
quando me fecho sou retórico
pois no interior busco fascínio
embora me exiba sem público
palestro como orador exímio
meu amor consigo exprimir
com a voz da minha caneta
profiro encantos de se ouvir
na boca dum venerado poeta
inquieto a alma com danças
que as emoções coreografam
pensamentos parecem lanças
que meus sentimentos lançam
quero falar como escrevo
não em busca de holofotes
porque a vida que eu levo
já é uma luz sem cortes
portanto a fala muito preciso
apenas para eu sair de mim
adentrado já não improviso
penso que a vida não é assim.