DIA DE TROVOADA
(Hoje acordei com chuva de trovoada em Salvador)
Corre o raio,
corre o som lá pelo céu
e no chão corre a água
da chuva de trovoada.
Depois do raio vem o trovão
e a enxurrada na porta,
para a criançada, é diversão.
Valei-nos!
Santa Bárbara,
rogamos a sua proteção.
Cai o raio, cai a chuva
no estouro do trovão.
Descendo a ladeira
com as mãos nas cadeiras,
balança o pote , mas não cai,
na cabeça da moça faceira.
Água na cabeceira
enche o rio, enche o pote
e o rio sobe no boqueirão.
Em dia de trovoada,
sob as bençãos de Iansã,
borboleta é sorte
quando abro a porta
pela manhã.
A chuva vem
sob raios e trovões
em dias de trovoadas.
Em tempos de chuvaradas
quando deságuam
todas as águas
nas águas salgadas
de Iemanjá,
o mar fica revolto
e a jangada não
sai para pescar.
Tempos, assim,
relampejam lembranças
dentro de mim.
Via nos olhos do passado
uma fé que protegia;
orações apressadas,
portas e janelas fechadas;
panos sobre espelhos,
enxadas, facas e facōes
recolhidos dentro de panacuns
em algum canto da casa.
Tempo de fé,
uma sã inocência
e sábia submissão
à mãe natureza.
(Imagem: web)