OS PÉS CALEJADOS DOS BALDES CHUTADOS
Os dedos dos pés calejados
E não há nada que respalde
Esse chuta e chuta de balde
Que nos deixa atortoados
É um mirar daqui, de lá
Quem enfim chegará?
No ponto exato, perfeito
Que se faz efeito?
Os calos estão já vermelhos
É tanto sangue gasto por nada
E tanta palavra exagerada
Que já não cabe nos peitos
O esquerdo, do coração
O direito, de pancadas
Que causam certa distorção
Nestas minhas vistas cansadas
E se duvida ou acha graça
Tudo bem, não há problema
Tudo um dia vai, na praça
Ou numa fila de cinema
Enquanto aguarda sua vez
Olhando belos jovens risonhos
E dizem ter tantos sonhos
Um, dois, três talvez
Estes pés calejados
Irão se curar por completo
O que é justo, logo, reto
Até podem ser b'empregados
De tanta besteira dizerem
De tanto poder pedirem
Só que estes pés avermelhados
Logo mais, esbranquiçados
Caminharão por onde tiverem
E se com eles se verem
Não chute mais baldes vazios
Um grande amor vale mais mil!