O FILHO DA PROMESSA

Assim como Isaac, filho de Sara e Abraão,

também eu sou o filho da promessa!

Na noite, logo após os festejos do casamento,

o espírito de meu painho vagou no corpo oceano de mainha!

No dia seguinte, mainha já me sabia dentro dela,

foi a manhã do primeiro dia e mainha achou bom!

Católica devota, de imediato fez duas promessas:

uma para são José, outra para santo Antonio!

Para são José, padrasto de Cristo e carpinteiro,

pediu que eu fosse honesto e trabalhador!

À santo Antonio, em sua ignorância histórica,

para mainha, o casamenteiro, para que eu formasse família!

Mainha, mulher honesta e devota, pagou a graça recebida,

e assim nasci e fui batizado José Antonio!

Sentado na cozinha de casa, olho as velas no oratório,

acesas aos pés das imagens dos dois padroeiros!

Penso em José, personagem dos evangelhos que nada fala,

foi um sonhador, todas as suas ações são fruto do sonhado!

Quanto a Antonio, mal sabe mainha, que no período colonial,

ele era o padroeiro dos capitães do mato, que acendiam,

assim como mainha, velas para a sua imagem

para que ele indicasse as rotas de fuga de escravos

e sempre que recebiam a graça, capturando fugitivos,

trazendo deles pedaço da orelha e as chibatadas como exemplo!

Bom, tive sorte, analfabeta, mainha não leu Dom Casmurro

e assim, por promessa, não tive o destino de Bentinho,

a não ser pela minha paixão a todas as minhas Capitus!

Se o nome dado, segundo crença de povos vários,

é destino já traçado para o nomeado, no meu caso,

só de José peguei o legado, eterno sonhador,

sigo minha sina, sonhando a possibilidade do sonho

e trabalhando por ela, pois sei, dia a mais ou a menos,

eliminaremos os capitães de mato modernos,

capitalistas que se alimentam de nossa fome,

e cumpriremos o nosso destino, sendo inteiramente humanos!

Sou como Isaac, filho de Sara e Abraão,

filho das promessas, das crenças campesinas,

José Antonio, da minha santa mainha!

(dedicada com amor e carinho à minha mãe e meu pai)