Epifania
A verdade vem involuntariamente
Com sacudidas reais de coisas que já sabes, bem no íntimo
Mas preferes brincar no faz de conta
E não percebes que a negação não impede a omissão
Tampouco faz deixar de doer e impede a ferida de jorrar sangue
Foi uma epifania de sutura sem anestesia
Apontando em cada ponto o erro e a divergência
E com o álcool a limpar, podes, finalmente tudo claro enxergar
Rápido e lento o processo começa a findar
Ferida costurada com o fio da razão
Tratamento realizado, não há medicação
Ao final deixará uma cicatriz, e, com sorte, sem mais danos
O momento de epifania se vai e esvai
Numa breve passagem de tempo resultante de uma frase não muito longa
E assim, a lição, sem demora, aprendestes
E entre os mais de trinta pontos, algo é necessário
O tempo de recuperação não é de repouso
É de cumprir o que se prometeu
E parada, ao mais longe, compreender o que, de fato, aconteceu
Não foi um acidente, a epifania foi um presente
Embora não haja melodia, música, conselho, conversa que anestesie
Nada melhor que a costura das fontes de dor, ainda que com mais dor
Pois, pontos fechados serão, ao menos um dia, pontos curados
Nenhuma epifania é completa, essa se perde nos próprios versos
Devido a dolorosa verdade de que deixar o tempo passar é a ilusão dos tolos
Tudo muda, mas tudo continua igual, em raros momentos de lucidez,
Lutando contra aquilo que alcança em lugares que outrora eram maré mansa
Permitem de cada uma, ser o alimento da serventia
Fazendo encontrar, a passos curtos, o caminho da vida
O sentido de se ver além do que se é, mais do que se faz.