a essência da resistência | o medo de sentir
o medo de sentir
nunca vem só
norteia a cautela
para guardar a direção
metáforas não persuadem
quem guia-se pela razão
amargas memórias
são o argumento
sem sustentação
daquela velha história
redigida com lágrimas
o medo de sentir
tão vago e abstrato
por vezes é confundido
com insensibilidade
de quem a tudo sente
com muita intensidade
refugiou-se no casulo
para evitar a dor de amor
porque já extrapolou
a cota de desventuras
enquanto padecia a esperas
aprendeu a ser só
porque ser só
era deveras
trabalhoso
não mais
do que
remendar
um coração
machucado
por nunca ser
o suficiente
porque nem
o maior amor
do mundo
seria o suficiente
para alguém
que não a amava
o suficiente
o medo de sentir
entra num impasse moral
e como ele só
busca no banco de dados
as amargas memórias
para que ela jamais se esqueça
cair dói
refazer-se
tanto mais
ainda assim
algo dói mais
é aquilo
que não foi
o suficiente
para ser
sequer desejo
o corpo responde
ao doce e gentil toque
a razão, desprovida
de um bom argumento,
implora para que ela ignore
as réplicas da emoção
uma vez
chegada
a hora de
dizer sim
o caminho
é em frente
é preciso
que se enfrente
o medo de sentir.
11/12/21