VOZ A FIM DE (NADA)

 

É a voz afinada que quebra o vidro

Estilhaço na estrada

Na espera de ingênuos pés

Que com fé em grama

Que como peixes, viram-se.

Com escamas de sangue e vidro

“Por que fui sair na cama?”

E a voz afinada mais nada fez

Não precisou

Eternizou-se nas cicatrizes

Eram pés de atrizes

Mas não conseguiram disfarçar

Queriam entender

Como seus pés puderam conceder

Um caminho estilhaçado

Mas não são dados, não é o acaso

Os pés que vão comprar o maço de cigarros

Também vão à igreja

Veja, ou melhor, “desveja"

Deseja caminho limpo

Como se em um lindo dia

Houvesse apenas na estrada

A voz não afinada hipnotizou

Jogou feitiço

E com isso

O esforço de voz afinada

Vira mera sorte, sorte de jogador

Que usa dados viciados.

 

Imagem - Créditos: Anderson Kolbes