Retiro tudo, até mesmo a intuição dos sonhos.
Eu retiro tudo, palavras por palavras, retiro os sonhos, retiro a vontade de sorrir, de sentir as emoções, nego tudo, no passado a história não aconteceu.
Tudo foi engano, engodo, a história não repetiu, a dignidade foi superada pelo desejo negado.
Retiro as fantasias, a doçura dos lábios, retiro a contemplação da alma, retiro até mesmo o princípio da esperança.
Não preciso da substancialidade do tempo, recuso o paraíso prometido, prefiro os pés trôpegos manchados pela dor da ilusão.
Retiro o destino imaginado, o silêncio destinado, recuso o esplendor da existência.
Recuso o solo infértil, não sou boi a procura de pastagem, recuso até o que foi bom, tenho vergonha da historicidade, dentro da minha cognição existe orgulho, prefiro a grandeza presa ao infinito e não a sapiência sepultada.
Por fim, retiro o que sempre esteve dentro da minha memória, tudo que restou foi a minha imaginação perdida entre tempestades e não as resoluções do passado.
Deste modo, nada sou a não ser a destruição dos sonhos, retiro o afeto oferecido,
dedico a minha exuberância tão somente a indignação, o resto do resto, a pequenez da maldade, retiro então a contemplação soçobrada pelo breu do silêncio machucado.
Edjar Dias de Vasconcelos.