COM O TEMPO
COM O TEMPO...
Com o tempo,
vejo-me no espelho interior:
divirto-me, relendo
o que já escrevi;
guardo no baú da alma,
talvez,
algum resquício de algo
que tenha escrito de valor
artístico;
ciente de que o tempo,
apesar da fiel amizade,
é indiferente
ao que já escrevi.
No entanto,
eu me importo com os textos
guardados,
porque refletem no espelho,
não o desvalor das coisas velhas,
mas o valor da arte
conservada
na memória espiritual.
Bem sei que o tempo finge
não se importar,
porque ele se renova comigo,
quando releio pelo espelho
os textos já escritos
(os que têm alguma valia);
e numa preparação simultânea,
a arte me incentiva
a escrever novos textos,
que, envoltos no tempo,
ambos decerto,
hão-de sobrevir.
Volto no tempo...
(o tempo, que faz uma cara feia
ao enxergar no espelho,
só os restos
de sua presença
temporal esquecida);
e revejo minha arte escrita,
no aparente mistério
das coisas ocultas...
Quando a alma não se apequena,
vale a pena
refletir sobre a utilidade
de sua humilde grandeza,
na arte
aprendida e aprimorada...
E o meu espelho
íntimo (dentre tantas
utilidades), serve pra isso:
pra reler nele, o que já escrevi;
e no prazer da releitura,
renovar minha escrita,
da mesma forma que renovo
o meu contínuo evoluir.
Adilson Fontoura