Conversa com a morte

Ei, você!

Sou a Morte, você está bem?

Está tudo bem, só está nós dois aqui

 

Eu não sei como responder

Há dias que me sinto para baixo

Nesses mesmos vejo que não mereço essa condição

Existem dias que estou bem

E também não mereço, quem sabe!

Você não veio atrás de mim, veio?

 

Relaxe, relaxe, amigo!

Uma desgraça pode lhe acordar e pulsar seu coração

Onde dói?

 

Eu não sei dizer

Dói em tudo e em nada ao mesmo tempo

Quando tento aliviar, alivia tudo e nada temporariamente

Há um buraco que tento preencher, mas cada vez fica mais vazio

“Qual é a droga que salva?”, escutei isso uma vez no rádio

Acho que não funcionaria com tudo que tentei

 

Certo, certo, garoto!

Você já encarou a morte tantas vezes, que já sou sua conhecida

O que você acha, sou uma boa amiga?

 

Eu não sei se entendi para responder

Uma sábia mulher me disse uma vez que existem vários lutos

Há muitos lutos para eu encarar

Poucas ferramentas para ajudar

Sinto minha mente tocar fogo em meu coração

Fico sentado com a solução, mas sem coragem para apagar tudo

 

Ei, você!

Se usasse sua solução e com a liberdade se abraçar

Onde iria?

 

Me diga você, sempre a vejo

Mas ainda assim se chama de Morte, sempre vagando por aí

Não importa o quanto tente, nunca estará livre, realmente livre

Quebrando garrafas pelo caminho, e abraçando vários corpos quentes

Meu coração ainda pega fogo, minha mente ainda me engana

Aquele buraco ainda continua vazio

 

Ei, você!

Você acha que tenho como ser livre, mas só você sabe que estou aqui

Visito várias pessoas, mas como só você está ciente?

 

Me diga você, apenas acho estar sonhando

Riscos da profissão, sou escritor

Tenho que escrever sobre ela, sobre mim

Sobre as mulheres, sobre Deus e o mundo

Mesmo de um jeito depravado, mesmo não sendo um dos preferidos

Ainda preciso não só escrever sobre lutos, mas como vivê-los

 

Ei, você!

Eu apenas causo os lutos, não sei o que dizer

Como pretende superá-los?

 

Uma jovem mulher me disse que nem tudo tem a ver com você

Em meu coração existem várias cidades

Umas destruídas, outras habitadas

Você acabou com umas, mas outras as perdi de outro modo

Saudades é como carregar o mundo na mochila em suas costas

Pesa, e, no final, não há destino para levá-lo

 

Entendo, entendo, entendo!

Eu vivo através do medo das pessoas

De que pretende viver?

 

Embora sempre nos falando

Não acho que você seja minha pretensão de escolha

Preciso dar cores aos meus sonhos rabiscados

Preciso dar vida aos personagens dos meus livros

Preciso fazer conquistar muitos sorrisos das mulheres

Acima de tudo, parar de fugir dos meus lutos, e encará-los

 

Eu sei, eu sei!

Sempre bom conversar com quem está sonhando

Acene se precisar