CÃO SEM DONO
Não te pertence a poesia.
A poesia, também,
a mim não pertence.
É como querer tirar escritura
da beleza, apropriar-se
do por do sol
e colocar num saco de mercado
a luz da lua refletida no mar.
Não há código de barras na poesia,
nem a esferográfica em tuas mãos
é um leitor óptico
a decifrar suas entranhas.
Ela não vive adormecida
nas páginas de um dicionário
ou nas ilustrações enciclopédicas.
Ela é enigmática,
cão sem dono a vagar
pelas cidades e pelos campos.
Se ela te encontrar,
rogue para que não estejas
enlouquecido pelo narcisismo.
Mesmo que a tenhas,
ela partirá sem previsão para voltar.
Se fores escolhido, ela voltará.