É FOME! NÃO É DOENÇA!

É FOME! NÃO É DOENÇA!

Carlos Roberto Martins de Souza

Ontem vi um trapo revirando o latão lixo

Procurando sua comida entre os detritos

Não importava se o achado tinha bicho

Ele fazia parte dos miseráveis e aflitos

Ser pobre no Brasil parece ser um bicho

Maltrapilho doente abandonado na sorte

Vive virando revirando a imunda lata lixo

Vai levando a vida até encontrar a morte

Minha gente eu tenho medo do inverno

Sou pobre eu tenho alma e bom coração

A fome e o abandono são nosso inferno

Morro aos poucos por causa da tal ilusão

Eles me usam como política nas eleições

Eu e minha irmã gêmea a fome sofremos

Somos objetos úteis nas mãos de ladrões

E nem mesmo dar opinião nós podemos

Já fui um trabalhador correto e honesto

Da terra eu tirava o meu pouco sustento

Lá onde eu morava não tinha o tal resto

Na roça para gente não faltava alimento

Sem esperança não sei mais o que faço

Vivo do lixo das sobras e do pouco caso

Lá na minha mesa o alimento é escasso

Sou como uma mercadoria fora do prazo

O melhor remédio para fome é a comida

E o governo é mesmo um belo fracasso

Para ele o pobre é só uma grande ferida

Ele trata miserável como sendo bagaço

Se for para falar de fome o governo some

A coisa muda se for para ganhar dinheiro

Pois político sabe muito bem o que come

Para levar a cabo engana o mundo inteiro

Fome não é doença nisso ninguém pensa

Ela é o fruto do descaso das autoridades

Somos vítimas de uma grande indiferença

Vivendo esquecidos por todas as cidades

A fome não tem ZAP não manda recados

Na sua maneira mais sútil de comunicar

Da barriga vazia ela manda os roncados

Dizendo eles não me querem alimentar

Mas como ronco da fome não suja cueca

Ele só incomoda pobre miserável faminto

Que de Bucho vazio tirando uma soneca

Enganando a dura fome com seu instinto

Fome é preciso lembrar não tem nome

Não tem cor nem tamanho matemático

Muitos acham que opinião mata a fome

Fazem dela um problema emblemático

Sou a fome e eu sei que sou o que sou

Um problema dos governos e dos ricos

E confesso não sei quem me inventou

Sei que me detestam assim vivo de bicos

Em tudo que se alimenta estou presente

Se faltar comida vão ver minha presença

É muito fácil viver quando estou ausente

Nos palácios dos ricaços sou uma ofensa

Sou os José o João as Marias sou a fome

Pouco importa se alguém sabe meu nome

Se não mato essa dor que me consome

Sou eu mesmo quem vai morrer de fome

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 15/10/2021
Reeditado em 16/10/2021
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