TRÊS HORAS FORA DE MIM
Foi num sopro. Parecia cair no buraco que vinha de dentro da minha alma. Estalava forte no meu ouvido, aquele insuportável ruído estranho.
Aos poucos fora perdido o equilíbrio; as forças da ereticidade; o sentido, o sopro da vida não se fazia mais presente em meu corpo.
Ironicamente, numa faísca, ainda deu tempo para se pensar, para ver se já havia chegado ao fim. Num breve instante, nesse lapso, veio uma angústia com gosto de cicuta, ou pior: como o fel no mais ardoso sabor amargo.
Inexplicavelmente, aproximou-se uma Brisa que me falou: Eis o exame daquilo que a vida é: um sopro, um fio nano retenso, esticado numa travessia movimentada de um rio, que qualquer esbarro pode romper-se.
A vida assim como o raio, veloz; um facho de luz no espaco; vai, e chega ao ciclo final. Ela continuou falando: -Quem dera se todos tivessem tamanha experiência, os humanos seriam melhores!
Naquele instante, a Brisa com os olhos arregalados, mas com a voz mansa, fez exortação aqueles que ainda não se deram conta do mesmo gênero, humanos.
Ouvi atento! Eu, no meu costume de humano, quis justificar as atitudes dos trogloditas, e ela novamente num tom de voz mais forte exclamou:
-Não interrompas aquela que vê nas atitudes injustificáveis, desculpa para a prática do mal. Se todos tivessem ciência que o mal não é uma condição, uma necessidade é, sobretudo, uma escolha, as virtudes colocariam o homem num pedestal jamais alcançável; seriam exaltados como a raça suprema e, haveria "fome e pobreza" somente nos livros didáticos de história. Porém, o que ver, contradiz todos os ensinamentos dos que se dedicaram a estudar os costumes da humanidade, a fim de aprimora-los, e mostrar os meios para a sofisticação do coportamento humano.
E nesse mesmo momento, quando a Brisa falava, veio alguém, juntou- se a ela, esperou e respeitosamente; a Virtude disse:
-Tais atitudes condicionam os que tentam andar no caminho das virtudes, porque podem agir igual, por se sentirem sufocados. Daí o cuidado para não deixar instalar o caos; vigiando o espírito, garantindo a identidade humana!
Aos poucos, fui retornando os sentidos, no silêncio interno nunca antes vivido. Escutei as batidas do meu coração.
Antes de abrir os olhos, ainda deu para eu ver, uma imagem no ambiente escuro, chegando próxima a mim. Era sorridente, cabelos rente e barba branca, pele negra, olhos anil, roupa bem gastada pelo tempo de uso, me ofereceu água; vindo do lado direito também, no alto, uma luz.
Aquela voz doce, angelical exclamou: - Fiat vide! Nunca ouvi nada igual. Fiquei desfalecido, e extasiado. Perdi a razão, não tinha mais emoção. Porém a esperança permaneceu. Peguei a bolsa, levantei do banco da praça, e fui...!
De: Carlos Aberto Barbosa
Aos amantes da leitura.