NOVA SESSÃO

Dizemos nos conhecer

e isso não é verdade

todos sabem tudo de você

só você que não sabe.

Lembra aquele sorriso?

aquele aperto de mão?

aquele beijo furtivo,

seria real ou não?

não seria teatro?

Num palco, melhor picadeiro

onde você era o palhaço?

seria tudo verdadeiro?

As luzes, os refletores

apenas sombras deixavam

iluminando os principais atores

que apenas te usavam

O triste é quando o palhaço

ali de cara pintada

percebe estar sendo usado

de forma tão descarada.

vê-se o borrão da pintura

o sorriso se desfazer

alegria vira amargura

lágrimas pode se ver.

E, o povo? mero espectador,

ri, chega a gargalhar

mesmo sabendo que a dor

pode um palhaço matar.

Acaba-se mais uma sessão

fecham se as cortinas

palhaço, coração nas mãos

para seu leito caminha

Pensava que era forte

fazendo-os rir com piadas

não sabia que até a morte

da sua sina zombava.

E agora, diante do espelho

vê a pintura escorrida

mostrando seu rosto, no pelo

ve as rugas da vida.

retira a ultima gota de tinta

deita se com a solidão

dorme, esquece da vida

amanhã, terá nova sessão.

Ladislau Floriano.