Outra vez
Outra vez esses tempos!
Entre incertezas e angústias abundantes,
dilacerando nossos sonhos, entre abismos
sempre pungido pelas fomes, pelas ironias,
incitado por necessidades e carências.
Os dias passam, a fome não!
Outra vez essa fome premente.
Fome de comida, fome de afeto.
Fome de atenção. Fome...
Cada vez mais esse ar contaminado.
Esse ar sufocando, nessa falta de perspectiva.
Já não bastam mais os gritos, nem imprudências.
(ninguém escuta, ninguém reclama!)
Outra vez os desatinos, os fingimentos.
Não quero arma, quero comida!
Não quero palacetes, quero água, quero pão!
Basta dessas madrugadas frias, dessas promessas.
Somos imagens borradas, nessa vida,
nessa desconformidade, sem rastro, nessas ruas,
ruminando as mágoas, os desafetos, sonolentos.
Somos fantasmas pelas ruas, entre sombras.
(Ninguém vê!)
Nessa tarde vazia, vazia de afeto, vagabundeio.
Entre concretos, avenidas e carros, essa dor,
dor dilacerante dessa gente, que teima em viver.
Torturante, esses dias tormentosos, entre mentiras...
Os dias passam, os famélicos continuam por aí...