Metade de mim
 
Nem tudo em mim é pureza ou ternura
Parte de mim é temor e a outra bravura,
Parte de mim é curiosidade e a outra loucura

Sou livro de cifras, sem manual ou gravura
Mas ao mesmo tempo sou simples, feita por Deus como toda criatura,
do mesmo material, forma e textura
Sua imagem e semelhança: por fora a mesma espécie e estrutura

Mas por dentro não,
e comparar seria em vão
Dentro de cada ser, cabe um universo
Por isso seria perverso
Julgar o poeta lendo somente o primeiro verso

Para os que insistem, o motivo eu expresso:
Se erro é porque não sei escolher direito!
Então penso um pouco a respeito,
e percebo que não nasci pra ser predicado e sim sujeito
Entendi que quem me guia não é a razão, e sim o que bate no peito,
Foi aí que ganhei o direito de ser imperfeito

Passional demais pra levar a vida com brandura,
não temo a queda,
Mas  sim o desamino e a amargura
Porque parte de mim é fogo, apesar da queimadura
a outra é brasa, esperando aumentar a temperatura

Então não estranhe meu jeito estranho de querer bem
Só sou assim, porque metade de mim é amor...
e a outra, também.