Favela
A vida é como um barracão
Bem na entrada da favela
A gente mantém a visão
E outrora algo se revela
De dia sobe camburão
Á noite se assiste novela
De madruga desce caminhão
Á tarde alguém se rebela
Ás vezes ocorre "pelada"
No intervalo após o "trampo"
Ás vezes cai um na "quebrada"
Bala perdida, grito e pranto
Caminhão pipa subiu pra salvar
Água acabou antes do entardecer
"Os homi" vieram patrulhar
Tiroteios voltaram a ocorrer
Do barraco assiste calado
Lamentos da reportagem
O cantar de um desafinado
Com macumba e sacanagem
Bicheiros vendendo sonhos
Traficantes cativando "noiados"
Comércio trocando alimentos
Vizinhos sendo reclassificados
Um garoto quer ser jogador
E o bebê acabou de nascer
O pai que é tatuador
E os boletos que vão vencer
A pinga no bar da esquina
As buscas por um ideal
O marasmo ruim da rotina
Os medos do Juízo Final
O velho perdeu um parente
A jovem que engravidou
Tem tonto que finge ser crente
A idosa foi quem me contou
A Lua ilumina a calçada
E a fumaça saiu da chaminé
Tem roupa nessa sacada
E cachorro com bicho-de-pé
Tem dia que rola um pagode
Tem noite que é só "batidão
Vizinhos querendo firmar
Acordos com algum "patrão"
A favela é o canto da cidade
Que o padre não abençoou
Por medo da tal igualdade
Que o povo se ajuntou