Hora de despertar.
A realidade está na criança faminta que estende a mão na porta do restaurante de rico como está no velho desobediente do asilo que reclama já nem sabe o motivo.
Está na criança que nasce com defeito como na mãe que olha desconsolada o fruto do seu ventre, tão exposto, frágil -dependente será -
Está na mão seca do pedinte estendida, e no pulsar dos corações que vibram silenciosos em noites avançadas no tempo, mas tão tardias de esperanças.
A realidade te puxa, exige, grita nos teus silêncios covardes de celulares dementes.
E quanto mais você foge mais ela te persegue, face fria, estranha versão de ti mesmo que não se reconhece no espelho.
Por vezes desdentada no riso demente do catador de lixo que recolhe teus restos, ela te aponta o dedo e blasfema, e você recua, apavorado.
Restos repletos de tua fartura, a mesma que falta em pratos vazios de comida e cheios de esperança tardia.
A esperança que rege sem reação um povo que dorme em meio a pesadelos reais.
A insensatez de um povo que esqueceu sua identidade distraído em redes de falsidades e mentiras.
A realidade busca te captar, desta vez para a verdade, a lucidez, o olhar compassivo para com os teus.
E você não ouve, e de tanto não ouvir ela grita nas tuas madrugadas insones, resultado dos teus vazios.
E lamenta em pesadelos infindáveis da tua mente doente, fruto que és de uma sociedade decadente, que já morreu e vive de sobrevidas acostumadas à melodia de sereias modernas.