PRELÚDIO
 
Ao olharmos para o lado,
Notamos.
Acabamos de perceber algo que nunca havíamos antes.
 
O som da tragédia que
Desde sempre
Ecoou
Torna a fazê-lo;
A notícia do desastre nos chega de longe,
Um grito distorcido que não entendemos,
Mas compreendemos
Como infeliz alerta de que algo há por vir.
Está piorando.
 
O soar da trombeta por cima do morro
É prelúdio indelével.
É o crocitar dos corvos quando voam em bandos
Em direção ao cadáver;
É a onda que recua, toma força e vem lavando a cidade.
 
A carcaça do destroier remete a tempos de guerra.
Mas como, se os machucados sequer terminaram de sarar?
Como, se as feridas que vêm do tempo continuam a sangrar?
 
Anoitece e o sabor da iminência é quase tátil:
Podemos ouvi-lo se aproximando,
Mas nunca o ver.
Estamos perdidos, não há mais volta:
A corda que nos aperta se fecha
Conforme tentamos nos livrar da sua prisão.
 
As estrelas já não brilham,
Mas não deveríamos estar surpresos, não é mesmo?
Como nos foi dito há milhões e milhões de anos,
"São tempos difíceis."
 
Chegou a hora de escolher sentir muito ou o “sinto muito”.
Entre um e outro,
Irmãos,
Nós sentimos apenas dor.

 
Ariel Fedrizzi - 24 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 20/09/2021
Código do texto: T7346570
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