Enquanto Escuto o Cantar de um Suicida e Penso na Efemeridade da Vida
Sem manual, sem o aconchego místico dos astros,
Sem ensaio moral, sem medida certa de beleza,
O ser humano está aí, jogado na galáxia e vomitado
Por uma loteria de genes e cargas sociais.
Improvisando papeis repugnantes na louca coletividade,
Tropeçando em espaços que tenta pavimentar caminhos éticos,
Cheirando violência travestida de decência,
Amador em seu conhecimento do universo
E perante sua insignificância no cosmos,
Em tais circunstâncias tateia um axioma que torne
A batalha da vida menos cruel, mais leve, ordeira.
Mas a transformação dos homens em mercadoria,
O esfacelamento ético e o rodopio das paixões
Fazem tudo que é sólido desmanchar no ar!
Em total fragilidade que atinge até o respirar,
Na efemeridade percebe que é necessário se movimentar,
Se chocar contra os obstáculos e caminhar impiedosamente...
Mesmo que a estrada o leve ao flerte fatal da final foice.
Sem se recompor dos socos dados pela tenaz realidade,
Gritando dores, fantasiando por cima da tosca rotina,
O homem descobre que viver é resistir aos suplícios
E encontrar algo pelo qual valha a pena viver.
E em minha limitada subjetividade deixo meus valores no palco existencial:
Não tenho posses, muito menos relevantes cargos sociais,
Mas uso minha profissão como instrumento de ajuda aos outros
E um meio de sobrevivência para ganhar poucas moedas.
Me revolto contra injustiças, engajo em movimentos de mudança,
Degusto meu vinho, delicio singelos prazeres, viajo,
Amo com intensidade uma mulher, ajudo os poucos amigos
E não meço esforços em nome da família. Fim da reflexão na madrugada!