TESSITURAS DAS NOITES

Há camadas disfarçadas
no tecido que veste
as madrugadas.
Espessura da noite,
essa matéria
que reveste os corações,
até mesmo dos desabrigados,
por todos os lugares,
longínquos ou tão íntimos.
Tessituras de aventuras
à galope,
rompendo os medos,
buscando as alegrias
oníricas do existir.
Ao anoitecer, Vênus
brilha não cintilante
no horizonte
e nos acompanhará
noite adentro.
A Estrela D’alva
aquece-nos
com suas vestes do amor.
O sol estará mais
profundamente,
adiante, a reluzir vida
enquanto a escuridão
lentamente esmaece.
Surgem os primeiros
tilintares das vasilhas
sobre o fogão.
A porta range
quebrando o silêncio
do orvalho no jardim.
Dimensiona-se os ruídos
dos primeiros passos,
em casa e na calçada
que se alonga,
tangenciando as janelas
ainda fechadas das casas
e dos quartos de dormir.
A potência dos motores
deslizam nas ruas
e a medida que avançam,
buscando destinos,
suavizam seus ruídos.
Outros aceleram
e seguem.
Assim, a espessura
da noite vai lentamente
se desfazendo.
A vida que tem tantas
madrugadas,
é esse continuo
acordar diário.