Eu queria ser normal
As vezes, com a mesma intensidade que amo ser diferente
Sinto raiva por não ser normal
Por não conseguir trilhar
O caminho tradicional
“Que droga, Cinthia!
Por que você tem que ser assim?
Por que você não faz igual a todo mundo
Que desde jovem já dominava a própria vida
Sabia o que queria
E não se atrasou pra chegar nos 30?”
“Só inventa moda
Viaja na maionese
Tem ideias bobas
Que levam a lugar algum.
Vê se toma jeito
Para de ser idealista
Vira gente comum
Decidida
Tenha um trabalho que te dê estabilidade
Seja constante
Construa uma carreira sólida
Assim, você será reconhecida
Terá paz na vida”
Essas conversas comigo mesma
Me deixam doida
É uma mistura de sentimentos
De vontades
Dúvidas…
“Onde está o meu defeito?
Preciso consertar logo
Não aguento mais
Isso me mata aos poucos
Não tenho condições
De pagar o preço por ser assim
Distante do que esperam de mim
E tão perto
De onde eu vim”
Eu nem sei de onde eu vim
Mas aqui é tão diferente pra mim
As pessoas
Os costumes
Os sonhos
O jeito de ser
Não é à toa
Que toda vez
Que encontro alguém
Com características parecidas
Fico em êxtase
Me sinto em casa
Me faz acreditar de novo
Que posso ser eu
Mas passa um tempo
Não muito tempo
Esqueço de tudo
Só vejo esse mundo
Cheio de gente comum
Sem sofrer pela busca
De algo maior
De si mesmo
Daquilo que pode ir além
Do simples nascer, trabalhar e morrer.
“Eu também não quero mais essa busca
Ela só me atrapalha
Só faz eu me perder no caminho
Quanto mais procuro respostas
Mais fico doida
Sofrendo sozinha
Tentando achar uma saída
Mas que saída?
Não sei
Nem sei pra onde ela poderia me levar
Eu só tentava encontrar
Porque aqui
Não parece ser meu lugar”
Eu queria deitar
Fechar os olhos
E acordar com a solução
Vinda dos céus
Como se alguém estivesse me ouvindo
Assistindo meus tormentos
E por compaixão enviasse uma ajuda
Um reforço
Através de uma voz audível
Me dizendo o que fazer
Ou caminhando comigo
Pra seguir meu destino
Seja ele qual for
Penso que assim
Eu não questionaria
Simplesmente iria
Por que o ruim mesmo
É ter que ir sozinha
Será que alguém me ouve?
Me diga, por favor!
Onde estou errando?
Eu sei que estou!
Eu fui buscar quem eu sou
Me perdi da versão que me deram
E parece que fiquei presa no meio
A luz se apagou
As cobranças me amarraram
As comparações assustaram
“Quem eu sou”
Ficou longe
Perdi de vista
Por isso me sinto assim
Sem identidade
Não consigo ser apenas mais uma na sociedade
E nem a versão que sonhei em ser
Tudo está tão estranho
Não sei se volto ou avanço
Acho que fico por aqui
Até alguma luz acender
Ou alguém vir me buscar
Estou cansada de tentar
Não deveria ser tão difícil assim
Viver do que acredita
Mas espera!
Agora que percebi:
Eu não acredito!
Eu duvido
Ah, então é isso!!
Eu acredito e vou
Desconfio e volto
Por isso o fim nunca chega
Só fico na metade
Repetindo as mesmas imagens
As mesmas paisagens
Eu preciso decidir
Retorno de vez
E aceito a vida normal
sem ambicionar algo maior
Ou vou pra frente, com convicção
Sem vacilar
Independente do que vão falar
Do que vou encontrar
Abrindo mão do que não dá pra levar
E agora?
Calma!
Eu sei que vou
Sei que não suporto a vida de trás
E nem ficar onde estou
Mas para ir sem desistir
Eu preciso me fortalecer
Me preparar fisicamente
E emocionalmente
“Cinthia,
Para de dar desculpas
Você se fortalece no caminho
Como você vai ganhar músculos na inércia?
Começa a andar
Não precisa correr
Vá no seu ritmo
Encontre outras pessoas no caminho
Há muita gente que também está indo
Você só não vê
Porque está vendada pela lamentação
Afundada na solidão”
É, até que você está certa
Fazia tempo que a gente não conversava tão bem assim
Já nem lembrava que você conseguia me motivar
Então, essa era a voz que eu queria escutar?
Fiquei animada para me levantar
Os próximos passos dar
Com calma
Sem pressa
Curtindo a jornada
Conhecendo novos amigos
Que também não são desse mundo
Mas querem construir nele
Um lugar melhor para morar
Sem se moldar
Encontrando a si mesmo
Para que o ambiente
Apenas reflita
O ser que em cada um há.