Memorizando
Eu escrevo porque tenho medo
Medo de que morra minha memória
E sobre apenas meu corpo
Para (não) contar a história
Memórias são o que me sobram
Depois de caminhar, cair e levantar
Retrucar, repetir e continuar
Na passagem das coisas que não voltam
Sou nostálgica e não me orgulho
Mas olhar para trás e não enxergar nada
Faz na mente mais barulho
Que o entulho da memória embaraçada
O que foi bom
O que foi ruim
O que será de mim
Sem que eu me lembre quem sou?
Aprendo com meus milhares de eus
E me envergonho dos erros ateus
Jamais me esqueço, porém, da remissão
Do prazer de viver o agora e disso ter noção
O que é bom
O que é ruim
Tecem-se em mim
E da música, ensinam-me o tom
Aprendo com meu eu presente
E me orgulho dos acertos coerentes
Jamais me esqueço, porém, da verdade
Suscetível sempre sou à maldade
Por isso o passado ajuda
E me faz entender a necessidade aguda
Que tenho de me entender como gente
E ver a memória como alma latente