O QUE TE DEIXA ASSIM
O que te deixa assim
São todos esses medos de outras horas,
São todos os cacos que apertas entre os dedos
Sem jamais deitá-los fora.
Palavras de fel presas na garganta,
Lágrimas suspensas que a dor não estancam,
O tanto a ser dito é o que te devora.
O que te deixa assim
É o amor enrustido que tu pisoteias,
As teias tecidas sobre as tuas veias,
O fosso profundo que cavas em volta
Para proteger-te das histórias mortas.
O que te deixa assim,
Dedo sangrando à agulha da roca,
É toda a paz que inadvertidamente trocas
Pelo desejo insano de manter controle
Sobre o que não controlas.
O que te deixa assim, são os segredos
Que a ti mesmo não contas, sobre ti mesmo,
Por orgulho, rigidez, ou simplesmente
Para manter as aparências entre os dentes.
Larga esses cacos, estanca o sangue, enfim,
Dê o tal passo, solta essa voz, respira!
Deixa bem solta a corrente da vida
Pois queiras ou não, o mundo gira...