Constituição
Sabe aquela de tirar lição,
Ver o lado bom da história?
Fazer limonada do limão,
Na humilhação ver alguma glória?
Buscar forças aonde não tem?
Do treino de remar contra a maré?
Musculatura para não esperar pelo além
Mas não desacreditar da fé?
Foi numa destas palestras motivacionais
Recheadas do vazio de muito blá, blá, blá
Cases de sucesso e outros tais
Que vi algo para se aproveitar
Sugeriram registrar como exercício
Da Missão Pessoal, uma Declaração
Meu ideal de essência num ofício
Uma Carta Magna da minha Constituição
É como pensar numa redação
Onde tento traçar o meu perfil
Tema para uma dissertação
Em poucas linhas, o desafio
Introdução, desenvolvimento, conclusão
Princípios, valores, devidamente registrados
Em tudo o que é casca o facão
O nu da minha essência revelado
Talvez muitos já conheçam minha persona
Em fragmentos capturados da minha poesia
Decotes chamativos que chegam a ser cafona
Vaidoso escondo o feio numa hipocrisia
Ser contra injustiças é uma verdade
Mas quem não o gritaria aos quatro ventos
Da missa não sabem a metade
Me irrita sua falta de engajamento
Ter na família um porto seguro
Quem também não defenderia esta bandeira
Minha sempre presente preocupação com o futuro
Muitos que defendem causaram esta bandalheira
E quem não defende pensar sempre grande
Mas das pequenas coisas não curte o recado
Para muitos o seu mundo só expande
Quando o de outros é cortado
Para a igualdade reconheço a importância
Quem diria abertamente ser contra este ideal
Mas muitos querem do diferente a distância
Costumam separá-lo e chamá-lo de marginal
E escrevendo esta estrofe anterior
Me veio à lembrança muitos “mente miúda”:
“Está com pena? Leva para casa.”
(Eles não sabem quem precisa de ajuda)
Quando quero escrever ultimamente
Do ódio desta gente carregado
Deixo sempre escorrer livremente
E deixo o texto contaminado
Amar à todos indistintamente
E sem distinção dar o meu perdão
A injustiça passar impunemente?
Só com o êxodo do meu coração
Mas se fosse para uma síntese eu diria
Reduzindo para ir mais longe
Um epitáfio para a pedra fria
Em poucas palavras, como um monge:
Tenho para mim e para os outros
Que minha vida nunca foi em vão
Vivi várias vidas como um louco
Minha essência sempre foi a paixão