Intrusa
Em um mundo que não reconheço,
Por um tempo ao qual não pertenço,
Vou vagando como uma intrusa,
Sendo revirada pelo avesso.
Que mundo é este, que se me apresenta,
Que desagrega e desordena,
Que me faz parecer tão pequena,
Que traz tristeza em vez de alento?
Um mundo onde não há quase nada,
Que não traga seu peso em dinheiro,
Onde a palavra fere mais que veneno,
Onde a justiça está maculada?
Onde o presente é apenas o meio
De construir o amanhã tão sonhado,
Olvidando-se o que está desenhado,
Que é o hoje que tem valor verdadeiro?
Mas minha voz rebenta e protesta,
E não permite que eu aceite o que vejo,
Transporta-me num breve lampejo
Para uma vida que desabrocha sem pressa.
Busco agora por alguma quimera,
Este anseio que me arrebata,
Desassossego que me torna insensata,
Alvoroço que em minh´alma impera.