Aos Olhos do São Francisco

Ao trançar grossos paus sobre uma rocha

A Senhora edifica uma capela,

Frente a frente ao Velho Chico que a vela

Fita a lua que expele a sua tocha

A Boa Nova, que no índio desabrocha,

Em Tupy, pronuncia corassá...

Negras mãos que descendem a Sebá

Calafetam mãos de cal noutra pedra,

Erigindo a igreja que já medra

C’ intuito sacrossanto de rezar.

Muitos anos distancia dessa hera,

Muitos padres congregaram seu ofício

Bendizendo a palavra em benefício

De verões, de invernos ou primavera;

Sob a luz traduzida em cada vela

Na esperança de alcançar a Boa Morte,

Bom Jesus, Benedito, enfim um norte

Dividindo orações, mas não a fé

De joelhos fazem preces, ou a pé

Na homilia a igreja se fez forte.

Tradições que se impõe por uma vida

Faz a mescla d’um povo persistente;

Kiriri, com sua flecha inclemente

Dá lugar ao vaqueiro em sua lida

Que sombreia em sua sombra preferida,

Repartindo o imbu com a ararinha

Nos alforges, traz a carne e a farinha

Campeando o seu gado mato a dentro,

Ora a Deus esquecendo o seu tormento,

Ora a Santa que adota por madrinha.

És o tempo o pintor de tudo enfim

E não faz distinção no pincelar

Cores vivas ou mortas ao pintar

Pinta a cinza, também pinta o marfim,

Pinta o sol que debruças ao carmim...

Da cidade em sua tarde - Cultural!

De mãos dadas c’as cores da coral

Unifica o pintar do velho templo,

Dando aos filhos um simples, bom exemplo,

Transformando o que é belo em magistral.