MEFISTÓFELES
Agachado na guia da calçada, fumava
olhando as pessoas que na rua passavam,
com meu olhar vazio, olhando para o nada,
quando atrás de mim, saindo do beco,
um vulto apareceu tocando-me o ombro,
pedindo-me o isqueiro emprestado,
estiquei o braço e dei-lhe o isqueiro
sem nem mesmo voltar-me para trás!
De repente, o vulto dirigiu-me a palavra,
dizendo-se Mefistófeles o guia de Fausto
e prontificando-se, se eu quisesse, a guiar-me
para conhecimentos pelos homens ignorados!
Sem voltar-me, nem olhá-lo, estiquei o braço
e pedi de volta o isqueiro emprestado,
com o isqueiro na mão levantei-me
e no meu vazio, misturei-me a multidão,
caminhando sem rumo acertado!
Trago no peito angústia que não se acaba
da minha amada me arrancada
pelas mãos da morte, hoje minha musa,
entre as musas dos grandes poetas,
e sigo amargurado pelos caminhos meus,
se de nada adiantou as explicações
para tudo o que me haviam tirado,
me dada, pelo dito criador de tudo, deus,
em nada me interessava qualquer alento,
que me propunha a encarnação do diabo!