Enfadado

Enfado

Para escrever, para ler

Para estudar, para criar

Minhas mãos apenas escrevem

Letras que não querem se calar

Enquanto minha face se mantem branca

Uma cara nua, sem feições, só cara mesmo

Pouco se importam mesmo com o que sinto

Pouco se importam mesmo com o que penso

Então minhas simplesmente digitam palavras

E sentimentos aleatórios

Sem qualquer conta de sílabas

Sem qualquer tentativa de enquadramento

Tanto faz se faz sentido

Ou se nem sentido tem

Tanto faz o que quer que seja

Danem-se afinal

É eu quem escrevo, então tanto faz

Quem sabe sou eu

E eu quero escrever ainda que ninguém leia

Porque quero escrever, não necessariamente ser lido

E isso me entretém

Ainda que minha face permaneça imóvel

Ah, como são inocentes os que acham

Que minha face diz o que quero dizer

Dissimulado posso ser

E se for, ou se não for

Tanto faz também

Não sou a caixa que você construiu sobre mim

Eu não caibo na caixa de ninguém, nem na minha

Então me chame de dissimulado, de falso, de besta...

O nome que me der é somente uma palavra que você encontra

Para descrever o que você não consegue entender

Para que possa se iludir, achando que sabe sobre mim

E sabe tão pouco

Eu não sei sobre você

E o mais patético é que eu acho que sei

Acho frequentemente que sei mais sobre você do que sei

E tanto faz também,

Porque tudo vai ao pó no fim

Enfim, o enfado me abate

Com toda essa conversaria de mim para mim mesmo

Esquizofrenicamente dialogando

Não é o bom ou o ruim, é o enfado que me cansa

Sempre arrombando a porta

E eu vou no automático para onde me levam

Porque o enfado me venceu, e se eu fizer o que me falam

Fizer com que calem a boca de uma vez por todas, então que seja

Boto minha máscaras, todas polidas e bem feitas

E vou do jeito que der mesmo

Dane-se meu coração

Pouco importa quem se importa

No fim ninguém se importa o suficiente

Quando dói o suficiente todos se vão

E eu permaneço só

Como sempre foi

É minha natureza parece,

Que num momento eu simplesmente vejo

Tudo que esta acontecendo na terceira pessoa

Vejo que a discussão pouco importa

E ai, dane-se, eu me dou por vencido

Até porque a morte é logo ali

E por fim, tudo acaba, e todos se esquecem de todos

As histórias são apagadas, as estátuas destruídas,

Os HDs queimados, um vírus qualquer

E ai morre tudo do nada

Por nada, para nada

E outra pessoa ocupa os espaços

E depois se vai essa também

De pensar isso, enfado é o que me assola

Brigas, discussões, razões, voz

Tudo que todos querem vencer ou ter

E eu queria só o silêncio

Me bastava só isso

Mas num mundo com tantos querendo tanto

Eu que quero pouco sou o que mais aceita

Porque me canso com facilidade

E não quero o que o outro quer

E por isso me basta somente a leve e bem fina esperança

De mesmo aquilo que eu quero sendo tão pouco

Seja o mínimo a ser-me dado

Doado, vendido que seja...

Mas não receio que isso seja possível

E por fim nada do que quero

Ainda o pouco que seja

Me seja dado

Até porque se me for dado com tanta violência

Quanto de fato parece precisar ter para conseguir

Eu nem quero

Porque assim não atingi o que queria

Que fosse leve, que fosse simples

Quem sabe...

Mas o meu pouco pode ser pouco importante para outros afinal

E de tão pouco importante

Seja deixado de lado

Se o que menos queria acontecer

Que é depender mais do que de mim, para ter

Se se depender mais do que de mim

Pouca esperança me resta

Nenhuma na verdade

Porque se depende do outro

Já sei que é perda de tempo

Quem se importa de fato?

Quem quer se importar, não é a pergunta

Quem se importa de fato?

E quem sou eu para que se importe?

No fim das contas eu sou tão nada quanto qualquer outro

E pouco importa mesmo quem se importa

Ainda que minha vida seja fria e escura

Pouco importa afinal

Outras vidas frias e escuras passaram pela terra e já se foram

E sequer sabemos o que quer que seja sobre cada uma delas

E eu serei mais um

Não seriam 3 mil palavras numa poesia mal feita

De mãos que simplesmente descrevem uma mente doente

Que um bom psicólogo poderia descrever

Ainda que nas limitações de sua literatura limitada e jovem

Minha mente também é jovem

Só é cansada

Por descobrir que em terra onde todos são protagonistas

Eu preferiria queimar tudo e acabar com esse teatro falso e infantil

Como haver protagonista se não houver onde atuar

Assim acabam atos e todos são plateia

De repente seria mais simples viver sabendo que todos são igualmente

Somente humano, somente gente... mas isso é utopia você sabe

né?

Só delírio simplista de uma mente doente

A realidade é que a terra é regida pelos "protagonistas"

E cada um acredita ser protagonista da história da terra

Eu sou um figurante, não por falta de importância, mas porque percebe

Que todos somos figurantes de algum protagonista

Mas por falta de referência, a gente tenta assumir

E falha miseravelmente

Enfado, é o que me resta

Na briga com os pseudo-protagonistas

Eu sequer quereria o lugar deles

As vezes ser ouvido, as vezes uma brecha de misericórdia

Mas só ouvem quando a culpa lhes bate a face

Esmaga seus corações

Quando as consequências de suas ações deliberadas acontecem

E você acha que mudam?

Se sim, inocente você...

Escondem-se nas máscaras de remorso

E eu sei porque quando a poeira baixar

Quando o tempo passar,

Lá estão de novo nas suas posições ditatoriais

No seu micromundo ilusório

Mandando e desmandando

Brigando para que seus desejos enfim sejam satisfeitos

Enfado

É o que me resta

Felipe Dcarlos
Enviado por Felipe Dcarlos em 13/07/2021
Código do texto: T7298957
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